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Conhecimento popular

 “A memória é o antídoto à morte: esquecê-la representa uma segunda morte!” 

Professores ajudam a preservar a cultura popular através do compartilhamento da arte e da literatura para os mais jovens.

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Quem nunca bateu na madeira três vezes para afastar as desventuras? Ou quebrou um espelho e ficou com medo dos sete anos de azar? Ou até mesmo não passou embaixo de uma escada, pois dá má sorte? Ou negar comida para uma grávida vai te dar terçol? Frases como estas soam familiares, não? Embora não exista nenhuma comprovação científica de que realmente funcionem, as superstições e crendices de toda sorte resistem até hoje e fazem parte do conhecimento popular de muitos brasileiros, principalmente os nordestinos.


A presença de crenças e práticas populares vinculadas a tradições que são passadas entre gerações são características cruciais dos nordestinos. Essas práticas possuem um significado totalizante e são capazes de articular experiências em dimensões entre o presente e passado. Para o professor de literatura e cordelista Stélio Torquato Lima, as manifestações da cultura através dos rituais, das artes e crendices contribuem para reiterar aquilo que dá identidade a cada povo. Ele afirma que é necessário ensinar os mais jovens, para que essa memória nunca se perca com o tempo. Para contribuir com o resgate dessa cultura, ele ministra oficinas e palestras sobre cordel, tendo já visitado mais de 100 escolas com essas atividades.

“No caso específico do povo nordestino, tanto os rituais, como o bumba-meu-boi, pastoril, quanto às artes, ou seja, a literatura, a xilogravura, a escultura e a música vêm contribuindo para afirmar aquilo que nos identifica, que inclui: nossa forma de falar, nossa maneira de cultuar o sagrado e de exprimir as alegrias e tristezas. Além da nossa culinária, nosso panteão e os elementos de nossa fauna e flora”, explica Torquato. “A memória é o antídoto à morte: esquecê-la representa uma segunda morte! As histórias contadas de geração a geração representam parte desse esforço de não esquecermos o que afirma os valores da tribo, do povo, de uma região, de um país”, sentencia.


O cordel é uma das manifestações culturais mais tradicionais do Nordeste e sobrevive até hoje graças à dedicação dos mestres da cultura. Na microrregião do vale do Médio Curu, no município de Pentecoste, a 91 km de Fortaleza existe um desses cordelistas. Desde criança ele é saudosista. Quando fazia viagens para visitar parentes, olhava atentamente cada detalhe, como se fosse a última vez que passaria por ali. Romário Braga é poeta, escritor, pesquisador, produtor cultural e professor, e assim como Stélio tenta repassar a cultura para crianças e jovens da cidade.

Mas o gosto pela poesia não surgiu do nada. Ele conta que tudo começou pelo seu avô paterno, Alfredo Braga. “Ele tinha várias fitas (tapes) e ouvia diariamente. Ele fazia o mesmo na TV, sempre buscando os canais culturais que reproduziam essa  cultura poética”, conta.  Romário aprendeu a apreciar a cultura ainda criança. Pensou em ser padre, mas mudou de ideia após ter despertado o amor pelo cordel por meio dos livros da escritora, também pentecostense, Cléa Campelo Vieira. “Foi a partir do momento que ganhei de presente um cordel da Cléa, que eu tive a ideia de escrever um para vender e com o dinheiro arrecadado destinaria para custear a publicação do meu primeiro livro. Até hoje escrevo cordéis e já tenho vários publicados”, acrescenta.


Teatro, história e resgate da memória fazem parte do contexto da diretora teatral, atriz, produtora e professora Geisiane Andrade desde a juventude: “Desde pequena eu era apaixonada pelos contos, lendas, por tudo que envolvia a arte e a cultura popular. E quando eu comecei a trabalhar com a arte pensei em unir essas duas coisas. Passei um tempo em Sobral, quando voltei para Pentecoste, criei o grupo de teatro Assum Preto e queria trazer esse lado do sertão. Inclusive, o nosso primeiro espetáculo foi o Auto de Lampião no Além, conquistando muitos prêmios". Por isso foi algo bem natural para ela imergir nesse universo lúdico e escolher trabalhar com o resgate da identidade cearense através da arte (ou será que foi a arte que a escolheu?).

E Geisiane ainda continua: “Seja a história oral, as próprias danças, os contos, as lendas ou o folclore, são todos elementos de extrema importância na construção da nossa identidade. É preciso que estejamos sempre trabalhando com os jovens e crianças, para assim manter viva a nossa história e a nossa própria cultura”. Três iniciativas foram contadas, mas com um só objetivo: “Manter as nossas raízes para não sermos tragados pelo esquecimento. Através da educação e da arte adubar a terrinha seca; arquivando a nossa história e concretizando o que somos para o amanhã”.

Gimar

Outro professor que despertou em muitos o prazer pela cultura cearense foi o nosso querido Gilmar de Carvalho. O tempo infelizmente levou o seu corpo, mas suas palavras e ensinamentos perpassam a barreira do esquecimento. Seu nome será eternizado por todos os que virão. Ele foi e é o símbolo da cultura popular cearense. Foi pesquisador, professor, jornalista, escritor, curador e amigo de muitos. 

Escute o primeiro episódio, Quem fofoca, se informa, do nosso podcast Bons de Lábia. Vamos conversar sobre conhecimento popular e como as informações são passadas de geração em geração.

EP 01
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